24 de Agosto de 2025
Latino-americanos de Origem Ucraniana Destacados
Milhares de voluntários latino-americanos se uniram às fileiras do exército ucraniano e, ombro a ombro com os ucranianos, defenderam a Ucrânia da agressão russa. O povo ucraniano os honra e lhes é grato por seu heroísmo e sacrifício. Mas é importante destacar que, em diferentes momentos, muitos ucranianos contribuíram para a formação e o desenvolvimento dos países do continente sul-americano. Por ocasião do 34º aniversário da Independência da Ucrânia, falaremos sobre três nativos da Ucrânia cujos nomes estão inscritos na história de vários países latino-americanos.
Miguel Rola Skibiski (1793-1847) – Participante da guerra pela independência das colônias espanholas na América do Sul e aliado de Simón Bolívar.
Miguel nasceu em uma família nobre na aldeia de Korchivka, na região ucraniana de Volínia (atualmente região de Khmelnytskyi). Após receber sua educação, tornou-se engenheiro militar. Aos 30 anos, passando pela Suécia e Inglaterra, Skibiski chegou à América Latina e se voluntariou para o exército de Simón Bolívar. Destacou-se e foi ferido na batalha decisiva pela independência da Espanha – a batalha no planalto de Ayacucho, no Peru, em 9 de dezembro de 1824. Por coragem e heroísmo, recebeu pessoalmente das mãos de Bolívar a mais alta condecoração militar – a Ordem do Libertador. Logo se tornou oficial de seu estado-maior.
Iniciando seu serviço como tenente, Skibiski ascendeu ao posto de engenheiro-tenente-coronel da República Federativa da Grã-Colômbia. Foi responsável pela construção de fortificações e, entre outras coisas, desenvolveu o primeiro projeto do Canal do Panamá, que começou a ser construído mais de meio século depois.
Em 1830, após a morte de Bolívar, tornou-se associado do primeiro presidente da Venezuela, José Antonio Páez, e trabalhou no principal departamento da Marinha. No mesmo ano, no porto de Maracaibo, Skibiski construiu a vila "Ucrânia", que mais tarde se tornaria o Hotel "Ucrânia".
Em 1831, renunciou e partiu para Paris. Passou vários anos na França, realizando missões diplomáticas para o presidente da Venezuela. Planejou um encontro com sua irmã e partiu para a Áustria, mas foi preso e extraditado para a polícia russa. Por seus serviços às tropas republicanas colombianas, as autoridades imperiais russas enviaram Skibiski para o exílio no norte. Após 10 anos, ele foi autorizado a retornar à sua propriedade ancestral. Tentou viajar para o exterior, mas foi preso e morreu em uma prisão russa.
Em 2020, um monumento a Miguel Rola Skibiski foi erguido perto do colégio militar na capital peruana, Lima, com a inscrição: "Amizade. Fé. Dignidade".
Jorge Polanski (1892-1975) – Renomado geólogo argentino.
Jorge nasceu perto da cidade de Lviv (atualmente localizada na região de Lviv), que então fazia parte do Império Austro-Húngaro, em uma família de um padre greco-católico. Estudou nas universidades de Viena e Lviv. Participou da Primeira Guerra Mundial e das Guerras de Libertação Nacional da Ucrânia. Nas décadas de 1920 e 1930, lecionou geografia e geologia em várias escolas primárias.
Polanski chegou a Buenos Aires em 1947 como refugiado após a Segunda Guerra Mundial. Apesar de ter doutorado, inicialmente teve que trabalhar nas minas. Mas isso não o impediu de alcançar grandes conquistas. Ingressou no Serviço Geológico Nacional da Argentina, onde seu trabalho nos Andes trouxe descobertas revolucionárias. Estudou os processos de glaciação e comprovou que os Andes apresentam o maior nível de flutuação da linha de neve do mundo. Essa descoberta mudou a percepção dos sistemas montanhosos!
Em 1956, Jorge Polanski tornou-se professor na Universidade de Buenos Aires, onde escreveu o primeiro livro didático de geologia da Argentina e muitos outros trabalhos científicos que ganharam reconhecimento internacional, além de formar muitos geólogos.
Sua contribuição à ciência foi reconhecida pela filiação à Academia Nacional de Ciências da Argentina e pela conquista do Prêmio Nacional da Argentina em 1964. Em sua lápide está escrito: "Professor Jorge Polanski – professor, cientista, patriota e humanista, que lutou por sua Ucrânia natal e enriqueceu a geologia da Argentina com sua obra...".
Clarice Lispector (1920-1977) – Notável escritora brasileira.
Clarice nasceu em uma família de um pequeno empresário na cidade de Chechelnik, na região ucraniana de Podillia (atualmente Oblast de Vinnitsa). Fugindo dos horrores da guerra e dos pogroms, seus pais e filhos logo deixaram a Ucrânia e, em 1922, se estabeleceram no Brasil. Por isso, Clarice afirmou mais tarde que nunca teve tempo de pisar na terra em que nasceu.
A menina demonstrou interesse precoce por livros e pela escrita. Escreveu seu primeiro conto aos 9 anos de idade. Apesar das dificuldades financeiras, Clarice recebeu uma boa educação e ingressou na prestigiada Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro. Trabalhava meio período, dando aulas particulares de português e colaborando na redação de um jornal.
Em 1944, foi publicado seu romance de estreia, "Ao Lado do Coração Selvagem", elogiado pela crítica literária por sua "interpretação sensível da adolescência". O livro foi considerado o melhor romance já escrito por uma mulher em português. O maior sucesso de Lispector foi alcançado pela coletânea de contos "Laços de Família", na qual ela refletiu de forma abrangente os problemas das mulheres.
No total, a produção criativa da escritora inclui 8 romances, 8 coletâneas de contos, artigos literários e traduções para o português de obras de escritores de língua inglesa. Suas obras foram traduzidas para diversos idiomas e adaptadas para o cinema diversas vezes. Clarice Lispector recebeu vários prêmios nacionais e a Ordem do Mérito Cultural do Brasil.
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Agora, heroicos voluntários de vários países da América do Sul inscreveram seus nomes na história da Ucrânia e estão escrevendo uma nova, talvez a mais importante, página na história das relações ucraniano-latino-americanas.